No Dia do Professor, youtubers ensinam como gravar videoaulas
O G1 ouviu três professores do RJ, SC e RS que dão aulas pela web.
Algumas das dicas são investir no áudio e manter a qualidade do conteúdo.
Um número cada vez maior de professores brasileiros está trocando o giz e o apagador por uma câmera e um computador, mesmo que durante algumas horas da semana. Fenômeno crescente na educação, as videoaulas têm uma demanda de público cada vez maior, principalmente na época do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). E levado docentes a darem aula olhando para uma lente, em vez de uma sala repleta de estudantes.
A nova modalidade, segundo três professores ouvidos pelo G1, traz vantagens e desvantagens em relação à aula tradicional. O alcance, de acordo com eles, é indiscutivelmente o maior ganho de publicar a aula na internet. Mas a adaptação ao ato de ensinar sem ter o contato imediato com os alunos é o principal lado negativo da tecnologia aliada à educação (veja, no vídeo acima, as dicas dos professores Paulo Jubilut, Carla Garcia e Daniel Ferretto).
Segundo os professores, o principal público-alvo das videoaulas são os vestibulandos. Porém, eles já produzem aulas voltadas para estudantes desde os 14 anos, no nível fundamental. Dependendo da matéria, como matemática há ainda demanda de pessoas que estão se preparando para concursos públicos, ou até universitários que precisam de reforço para matérias como cálculo(veja mais dicas abaixo).
Prazer e profissão
Além de produzirem conteúdo para suas próprias aulas presenciais, muitos professores decidem investir em equipamentos de vídeo também para reencontrar o prazer na profissão. Paulo Jubilut, de 35 anos, é formado em biologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e resolveu tentar gravar aulas em vídeo em sua casa, em Florianópolis, e jogá-las na internet como último recurso antes de buscar outra carreira.
Além de produzirem conteúdo para suas próprias aulas presenciais, muitos professores decidem investir em equipamentos de vídeo também para reencontrar o prazer na profissão. Paulo Jubilut, de 35 anos, é formado em biologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e resolveu tentar gravar aulas em vídeo em sua casa, em Florianópolis, e jogá-las na internet como último recurso antes de buscar outra carreira.
"Foi meio sem querer. Eu estava num momento profissionalmente ruim com aulas presenciais, e aí eu tinha decidido que eu ia parar de aula, simplesmente mudar de profissão. Antes de desistir de ser professor eu resolvi gravar as aulas que eu dava presencialmente na forma de vídeo, e jogar isso na internet. Como isso acabou sendo um sucesso, eu acabei desistindo do plano inicial de desistir de dar aulas, de trabalhar com educação". afirmou ele, em vídeo gravado a pedido do G1:
DICAS PARA PRODUZIR VIDEOAULAS
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CONTEÚDO: De acordo com os professores ouvidor pelo G1, é a parte mais importante de uma videoaula. Paulo Jubilut diz que leva uma semana estudando um tema e preparando o roteiro. Daniel Ferretto conta que a vantagem é poder passar definir a melhor maneira de explicar o conteúdo de uma só vez, ao contrário das aulas presenciais, em que há distrações por parte dos alunos e tempo é sempre fixo, em geral de 50 minutos.
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ESTRUTURA: 'Não tem segredo', diz a professora Carla Garcia, que usa a sala de aula de seu curso como estúdio na hora de gravar. As cadeiras são empilhadas e um fundo verde (o chroma key) é preso na lousa para que, na hora da pós-produção, a logomarca seja inserida. Não é preciso começar investindo muito nos equipamentos, dizem os docentes. Ferretto começou filmando no próprio quarto. Jubilut usava a webcam do laptop. Segundo eles, primeiro é melhor garantir que o conteúdo das aulas seja bom e interessante.
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DURAÇÃO: Os professores divergem nesse ponto. Jubilut cita estudos que dizem que a duração ideal é de apenas nove minutos, mas defende que aulas interessantes podem chegar a ter até 35 minutos sem perder a taxa de retenção dos espectadores. Para Ferretto, há muitas aulas boas com mais de uma hora de duração. Já Carla afirma que aulas com mais de 15 minutos fazem com que o estudante perca a atenção, principalmente na época do vestibular, em que há muita coisa a estudar.
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"Comecei a gravar videoaulas com a webcam do laptop", lembra ele. Hoje, Jubilut dá aulas apenas pela web e mantém uma empresa com dez funcionários para cuidar dos 516 mil seguidores de seu canal no Youtube, de um site onde estudantes podem ter monitoria e pagar por conteúdos extra e da realização de palestras por todo o Brasil.
"Faço questão de não utilizar quadro e giz. Se tenho proposta de dar aula pra aluno do século XXI, não posso ter ferramenta do século XX."
No site de Jubilut, parte do material, incluindo o "Guia do Enem", é fechada para quem comprar o pacote. A assessoria de imprensa do professor diz que não divulga os valores do faturamento da empresa.
Seleção de videoaulas
No Brasil, o YouTube já conta com centenas de canais voltados à educação, e decidiu criar, em setembro de 2013, um programa para estimular a produção de videoaulas.
No Brasil, o YouTube já conta com centenas de canais voltados à educação, e decidiu criar, em setembro de 2013, um programa para estimular a produção de videoaulas.
Batizado de YouTube EDU, o programa já abriga 154 canais, número quase seis vezes maior que o inicial. No total, os canais somam mais de 10 milhões de inscritos e os vídeos já foram vistos 888 milhões de vezes, segundo, Lucas Machado Rocha, coordenador de projetos da Fundação Lemann, parceira do YouTube no projeto.
Atualmente, a plataforma conta com mais de 17 mil vídeos, e 70% deles são de exatas ou de ciências da natureza (veja mais no gráfico abaixo).
Raio-X: videoaulas no Youtube
Matemática, física, química e biologia respondem por
70% do total de aulas em plataforma educacional
70% do total de aulas em plataforma educacional
Fonte: Youtube
"A maioria dos vídeos são feitos intencionalmente para a internet. Alguns são em ambiente de sala de aula, onde os professores estão mais confortáveis para gravar, e têm equipamento", explicou ele.
Retribuição
Embora minoria entre os canais de educação, os conteúdos de língua portuguesa costumam dar mais ênfase às provas de redação, principalmente voltadas ao Enem.
Embora minoria entre os canais de educação, os conteúdos de língua portuguesa costumam dar mais ênfase às provas de redação, principalmente voltadas ao Enem.
Professora da matéria desde 1998, Carla Garcia, de Niterói (RJ), estreou em agosto deste ano o canal Enem em Curso, com aulas gratuitas para a prova de redação.
Formada na graduação pela Universidade Federal Fluminense (UFF), e com mestrado pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), Carla, de 52 anos, atualmente mantém um curso presencial de redação – que é improvisado como estúdio para a gravação das aulas – e faz uma pesquisa de doutorado sobre a redação do Enem na Uerj.
"O canal surgiu basicamente da minha vontade de multiplicar conhecimento. Como eu não trabalho em escola pública, foi um jeito de devolver para a sociedade o que eu recebi dela, como investimento no meu crescimento profissional", explicou ela (veja mais no vídeo abaixo).
Novata no mundo das videoaulas, Carla conta que teve dificuldades, de início, a dar aula "para o vazio", como ela descreve. "A maior dificuldade, e foi um desafio para mim, é a aula em ausência. Aprender uma nova linguagem, dar aula para um vazio, para um câmera fria que fica olhando para mim." Mas, segundo a professora, a prática a ajudou a se adaptar à nova tecnologia, e o benefício é poder dar aulas para pessoas de todas as partes do Brasil que não têm dinheiro para pagar um curso de redação.
O canal de Carla ainda não tem faturamento, mas ela afirma que seu objetivo é oferecer o curso gratuitamente. Por isso, ela diz que o projeto é "familiar", já que ela conta com a ajuda da produtora da filha para gravar e publicar as aulas.
Conteúdo pedagógico
O objetivo do YouTube EDU é dar visibilidade a videoaulas que atendam requisitos de qualidade pedagógica. Por isso, para se tornar parceiro do projeto, não é preciso ter equipamentos caros, estúdio ou um modelo específico de aulas.
O objetivo do YouTube EDU é dar visibilidade a videoaulas que atendam requisitos de qualidade pedagógica. Por isso, para se tornar parceiro do projeto, não é preciso ter equipamentos caros, estúdio ou um modelo específico de aulas.
"A gente analisa canais que tenham no mínimo 20 vídeos. Desses 20, a gente seleciona dez de cada professor", diz Rocha –em muitos casos, o canal é mantido por cursinhos ou colégios, e conta com uma equipe de vários professores. "Os vídeos passam pela equipe de curadoria, e todos os dez precisam ser aprovados na avaliação. A gente não olha como o professor ensina. Se ensina com música, piada, jogo, tudo bem. O que importa é o conteúdo. Se o conteúdo tiver bom na visão desses professores, esse canal é aprovado."
A equipe de coradoria, de acordo com a Fundação Lemann, é formada por professores de um cursinho pré-vestibular e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Embora o YouTube EDU não divulgue a porcentagem de professores que tentaram uma parceria com a plataforma e não conseguiram, Rocha explica que, caso os curadores apontem erros de conteúdo nos vídeos, os canais podem corrigi-los e voltar a tentar aderir ao programa.
Videoaulas no tempo livre
Para não se tornar ex-professor, Daniel Ferretto, de Passo Fundo (RS), decidiu criar um canal com videoaulas de matemática há um ano e oito meses, depois de ser aprovado em um concurso público federal. Com 40 anos e formado em matemática pela UFSC, ele leciona há 18 anos.
Para não se tornar ex-professor, Daniel Ferretto, de Passo Fundo (RS), decidiu criar um canal com videoaulas de matemática há um ano e oito meses, depois de ser aprovado em um concurso público federal. Com 40 anos e formado em matemática pela UFSC, ele leciona há 18 anos.
"Nos períodos vagos eu gravo essas aulas para o pessoal no YouTube. Eu fiz isso pela principal vontade de voltar a ter algum contato com os alunos, e também com a matemática, que é uma disciplina que eu adoro", explicou ele (veja mais no vídeo abaixo).
Hoje, o canal Mais Matemática, mantido por Ferretto, tem mais de 160 mil inscritos, e suas aulas já foram vistas mais de 8,4 milhões de vezes. Assim como Jubilut, Ferretto não divulga o faturamento do canal, mas diz que o valor depende da época do ano. Segundo ele, a renda é semelhante à de um professor de escola particular.
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